24/02/2016

Escrever é inscrever-se

Não seria novidade dizer que, em algumas escolas brasileiras, o texto serve como pretexto: sua produção resulta em apenas mais uma avaliação com nota. Em outras palavras, o texto passa a ser um meio, e não um objetivo.
Essa compreensão equivocada se torna um empecilho para o desenvolvimento da competência escritora dos alunos e para a fundamental inserção destes como agentes em nossa sociedade.

Nesse sentido, dois problemas centrais saltam aos olhos. O primeiro é que a produção textual, vista como mera avaliação, retira do aluno o sentido da escrita, pois, além de ter como interlocutor apenas o seu professor (o que é inverossímil), visa exclusivamente a uma nota. Ora, como esperar que um indivíduo, após o percurso do ensino básico, consiga escrever bem quando exercer uma atividade profissional, tiver a interlocução de uma autoridade pública ou precisar divulgar um texto em algum meio de comunicação?

O entrave parte do fato de os professores e as escolas em geral, ainda hoje, considerarem o aluno um ser passivo, deixando de nele desenvolver a noção de que deverá atuar como agente na sociedade, o que pressupõe envolvê-lo, durante a sua formação, em “afazeres reais de gente real atuando no mundo social”, como diria a professora Angela Kleiman, da UNICAMP.

O segundo problema é o fato de que, na maior parte das escolas brasileiras, escreve-se pouco. Claro, se a intenção for simplesmente obter uma nota, uma produção a cada ciclo avaliativo é suficiente. Porém, se a meta for realmente desenvolver a competência escritora, a prática frequente é imprescindível. Assim como um atleta ou um músico precisam praticar constantemente, um aluno precisa escrever e reescrever muitas vezes até se tornar fluente na escrita de diversos gêneros e em diferentes contextos. Nesse caso, a quantidade – desde que bem orientada – também leva à qualidade.

No Colégio Pentágono, consideramos a produção textual um poderoso instrumento formador. Por essa razão, entre as primeiras versões de um texto e as respectivas reescritas, um aluno produz, ao longo dos três anos do Ensino Médio, 84 redações. Além disso, no processo de elaboração e reformulação de cada uma delas, proporciona-se não somente o debate entre os estudantes – assegurando-se a interação das múltiplas vozes do “mundo social”, mas também a criação de cenários reais, interdisciplinares e atuais, de modo a tornar o processo muito mais significativo. Assim, dá-se a eles a possibilidade de se inscreverem de fato como os novos agentes da sociedade e de se tornarem responsáveis pelas mudanças sociais de que tanto precisamos.

Bruno Loureiro Prado Alvarez
Professor de Português do Ensino Médio do Colégio Pentágono