06/12/2017

Uma nova história

“Tudo é discurso”, alerta Fernando de Saussure, e é preciso fazer coro às suas palavras. Desde opiniões falaciosas até textos jornalísticos, qualquer mensagem pressupõe bagagens culturais, ideologias políticas e perspectivas já consolidadas. Dessa forma, em uma realidade permeada por falácias e unilateralidade, o diálogo torna-se o principal – e talvez o único – meio para libertar-se de um mundo maniqueísta e viabilizar, com efeito, o respeito às diferenças não só dentro da sala de aula, mas também fora dela. É a partir dessas diretrizes que o Colégio Pentágono promove um dos eventos mais significativos para a formação educacional de seus alunos: o Fórum Estudantil do Pentágono (FEP).

Em sua edição de 2017, o FEP trouxe, de maneira inédita, um único tema comum aos comitês: a crise na península coreana. Esta, sobre cujo futuro pouco se sabe, evoca não só um conflito geopolítico, mas um contexto de crise nas democracias contemporâneas. Nacionalismo exacerbado, negligência perante as minorias e recrudescimento das premissas de liberdade – em meio a países ditos hegemônicos – tornaram-se parte de nosso cotidiano, colocando em xeque o destino da espécie humana. É sob o viés desse cenário que os estudantes do Colégio Pentágono se reuniram para tentar, efetivamente, modificar a realidade latente que os cerca e, mais do que isso, tornarem-se os protagonistas de uma nova história.

No plano coletivo, a experiência dos fóruns representa, em termos práticos, uma polifonia: os múltiplos narradores de um mesmo debate – ainda que ficcional – constroem uma só resolução, que deve ser aprovada pela maioria simples dos membros do comitê. Nesse sentido, o documento final torna-se fruto da relativização das perspectivas de cada nação, de modo a consolidar um sincretismo étnico, cultural e político. Portanto, tendo em vista a intolerância que, muitas vezes, converte discussões em verdadeiros campos de batalha ideológicos, o FEP é, ao contrário disso, instrumento de conciliação entre seus participantes.

No plano individual, é notório que as simulações reforçam o comprometimento do Colégio Pentágono em construir, de maneira coletiva, um atributo essencial ao ser humano: o altruísmo. O exercício da alteridade e o contato com o desconhecido – partes indissociáveis do processo de debate – oferecem ao aluno uma possibilidade única de desenvolver o autoconhecimento. Imerso em uma cultura distante de sua base curricular e diante do desafio de acatar pontos de vista divergentes, o participante tem como condição sine qua non realizar um distanciamento crítico. Assim, o senso social, construído ao longo das várias sessões do fórum, contribui para responder a questionamentos identitários: percebe-se que entender o outro é, paradoxalmente, entender a si mesmo.

Logo, para entender aqueles que vão além de seu tempo, é preciso antes compreender os que dão voz ao próprio tempo. É essa experiência transcendental que o FEP oferece aos seus participantes: a partir de uma ampla percepção sobre o passado, faz-se a leitura crítica de momentos decisivos, demostrando que, embora o caos político assole boa parte da realidade mundial, a humanidade resiste.

Com certeza, o legado que perdura ultrapassa a aprendizagem para se resumir em um anseio do qual todos os estudantes do Pentágono compartilham: a esperança de mudar o mundo.

Anna Julia do Valle Costa
Aluna da 3ª série A do Ensino Médio da unidade Alphaville do Colégio Pentágono