Home / Blog / Bate-bola com o Planeta – Bruno Alvarez
03/04/2017

Bate-bola com o Planeta – Bruno Alvarez

Entrevista – Bruno Alvarez, Professor de Redação do Colégio Pentágono!

O VI Concurso Pentágono de Redação está chegando, e acontece no dia 5 de maio. Quer saber como se preparar? No Bate-Bola de hoje, conversamos com um professor muito querido aqui no Pentágono: Bruno Alvarez, professor de Redação. Durante a conversa, ele explica como o concurso dá mais liberdade para o aluno na hora de escrever, e também conta um pouco da trajetória do aluno Rodrigo, nota 1000 na redação do ENEM. Mas o professor complementa: a escrita tem uma função muito além do vestibular; é uma ferramenta imprescindível de comunicação e expressão.

O Prof. Bruno também conta sobre a importância do respeito à individualidade de cada aluno: “Saber o nome de todos os alunos, suas dificuldades, suas virtudes e suas expectativas é crucial para se criar um laço afetivo”.

Confira!


Colégio Pentágono: Qual o papel do professor para que o aluno desenvolva uma boa redação? Como é feita essa orientação?

Bruno Alvarez: O aluno deve ver sentido naquilo que produz. Para isso, é imprescindível que o professor tenha uma visão contemporânea de língua e do que é escrever. Deve ficar no passado aquele tempo em que as aulas de Português eram fundamentalmente gramaticistas – em que as regras de norma culta tinham como fim a si mesmas – e as redações eram avaliadas por meio desses critérios. Hoje, a língua deve assumir, antes de tudo, um caráter instrumental, pois é com o uso dela que toda a comunicação humana se realiza: em um anúncio publicitário rápido e coloquial, em um poema cultista barroco ou em uma dissertação de vestibular bastante formal, é a língua o instrumento, de modo que, para os diferentes papéis nos quais é usada, deve haver a devida adequação daquele que fala ou escreve. Assim, quem se apega demais ao aspecto da mera correção do ponto de vista normativo não necessariamente será um bom usuário do idioma – às vezes, muito pelo contrário. Nesse sentido, é tarefa do professor mostrar ao aluno, rotineiramente, que aquilo que se ensina tem clara função prática. Não é só uma nota, não é só o vestibular; é a vida em si. Quando o estudante ganha consciência disso, a produção de textos passa a fazer mais sentido para ele, o que o leva a dar mais valor ao que escreve.

 

CP: Como o próprio aluno pode se preparar para a redação do ENEM e dos vestibulares? Quais são os principais pontos de atenção?

BA: Se o aluno tiver a devida atenção aos aspectos mencionados anteriormente, isto é, ao fato de que ele não está escrevendo simplesmente para ser avaliado, mas sim porque a escrita tem uma função central na sociedade, seu texto poderá ser aprimorado. Mas, é claro, escrever envolve uma série de pressupostos e conhecimentos de mundo que afloram nas linhas e nas entrelinhas, assim, aquele que detiver um vasto repertório tenderá a escrever com mais propriedade, clareza e autoria.

 

CP: Você é um professor muito querido pelos alunos aqui do Pentágono. Como construir essa relação de parceria e confiança com as turmas?

BA: A meu ver, engana-se quem pensa que são queridos os professores pouco exigentes. Os alunos podem até reclamar do nosso rigor e do excesso de afazeres, mas, quando percebem que há sentido no nosso trabalho e que a aprendizagem está acontecendo, ficam satisfeitos. A verdade é que ninguém gosta de ser enganado. Desse modo, se fizermos um trabalho que mostre ao aluno que ele está aprendendo algo de fato útil, a relação de confiança se estabelece. Mas há também outro aspecto relevante: o tato com que tratamos cada indivíduo na sala de aula. Saber o nome de todos os alunos, suas dificuldades, suas virtudes e suas expectativas é crucial para se criar um laço afetivo. Inclusive, para mim, no Pentágono, esse é o traço mais marcante.

 

CP: Como a sensação de acolhimento na escola beneficia o desempenho do aluno?

BA: Não existe educação sem liberdade. Se ser livre é ter respeitadas suas condições, opções e idiossincrasias, trata-se também de oferecer ao próximo o espaço para que exerça sua individualidade. Educar, em suma, pressupõe a valorização da vida harmoniosa em sociedade: o eu e o outro compartilhando o mundo. Que bom seria se, na maior parte do tempo, pudéssemos agir – e, muitas vezes, simplesmente ser – sem sentirmos o julgamento odioso do próximo… Quando isso ocorre, creio que fazemos tudo melhor, inclusive aprender.

 

CP: Recentemente, o aluno Rodrigo Macedo Rache de Andrade obteve nota 1000 na redação do ENEM e está entre os 77 alunos brasileiros que obtiveram esta nota. Pode nos contar um pouco da trajetória do Rodrigo?

BA: O Rodrigo chegou muito cedo ao Pentágono e foi meu aluno do oitavo ano do Ensino Fundamental II até o fim da terceira série do Ensino Médio. Conheci-o muito bem, portanto. No início, em função de sua deficiência auditiva, era muito difícil corrigir seus textos, que tinham problemas bastante específicos relativos à condição dele. Mas o esforço desse garoto sempre compensou suas dificuldades: sempre se sentou na primeira carteira, sempre tirou dúvidas, sempre quis saber como poderia melhorar sua escrita. Assim, ao longo dos cinco anos em que estivemos juntos, ele avançou como jamais vi qualquer outro aluno avançar. Gosto de dizer que nem todos as notas nos vestibulares ou no ENEM são reflexo exato do que é o aluno. Infelizmente, os exames seletivos no Brasil ainda fazem uma avaliação muito parcial dos candidatos. Mas, no caso do Rodrigo, tivemos uma nota que reflete exatamente o que ele é: trata-se, certamente, de um aluno nota 1000.

 

CP: No dia 5 de maio, acontecerá o VI Concurso Pentágono de Redação. Como participar desta atividade pode ser benéfico para o aluno? Como ele será avaliado?

BA: O Concurso de Redação nos traz outra perspectiva sobre a escrita. No dia a dia escolar, nem sempre podemos escrever sobre o que quisermos, do jeito que quisermos e em quanto tempo quisermos. No Concurso, os alunos têm uma liberdade maior, podendo se expressar de um modo diferente do que fazem rotineiramente. Quando isso acontece, escrever torna-se mais prazeroso, de modo que se pode revelar um gosto que era antes desconhecido. Nesse caso, participar pode significar entender o valor da escrita e, ainda mais importante, pode significar (re)descobrir a si mesmo.

 

CP: Tem alguma dica ou alguma mensagem de incentivo para quem está pensando em participar?

BA: Em primeiro lugar, o aluno deverá participar sem a preocupação em vencer. O mais importante é que veja no Concurso um caminho para se libertar de algumas amarras. É preciso se arriscar e, acima de tudo, se divertir! É curioso verificar que nem sempre os vencedores dos Concursos são aqueles que tiram as maiores notas nas redações feitas ao longo do ano letivo, mas sim aqueles que se aventuram livremente em terrenos antes desconhecidos.