21/12/2016

Um novo capítulo

Desde as primeiras obras da literatura, como os poemas épicos Ilíada e Odisseia, até os contos rosianos de Sagarana, do século XX, o tema da jornada sempre implicou uma transformação. Nessas obras, o mero deslocamento geográfico impulsiona uma expansão da percepção humana, oferecendo uma revelação sobre os mistérios da vida e o fim da busca por uma identidade. A conclusão do Ensino Médio representa um dos principais marcos civilizatórios de travessia em nossa longa jornada, um momento de esperança e medo sobre o futuro, mas, acima de tudo, de reflexão sobre o passado e de questionamento sobre quem nos tornamos. Não sou uma personagem de um livro ou uma heroína de uma poesia, de forma que minha história não pode ser resumida a um único acontecimento, um único momento de “transcendência”. Acredito, porém, que pequenos momentos que vivi no Colégio Pentágono – uma conversa, um sorriso, um olhar desafiador – contribuíram, pouco a pouco, com a construção de minha identidade, permitindo que eu me perdesse para que pudesse, enfim, encontrar a mim mesma.

Durante os últimos três anos que estudei no Pentágono, professores brilhantes fizeram com que a ciência perdesse sua objetividade simplista, fragilizando minhas certezas sobre o mundo ao mesmo tempo que me intrigava com seu aspecto misterioso. Pude aprender não apenas os princípios da física newtoniana e prever o comportamento de corpos em circunstâncias específicas, mas também compreender que nem as próprias leis da física – comprovadas experimentalmente – são imunes a questionamentos, afinal, muitas vezes não se aplicam a escalas muito grandes ou pequenas. Descobri que toda ideia pode ser debatida, toda teoria derrubada e todo conceito destrinchado até se tornar ilusivo. Compreendi que o verdadeiro aprendizado não é um processo passivo, mas a manifestação da essência humana – sua infinita curiosidade, criatividade e poder de abstração – sobre aquilo que chamamos de mundo.

Nesse momento de encerramento de minha jornada pelo Pentágono, olho para o passado à procura de um sentido para tudo o que vivi, algo que me aponte quem sou, quem me tornei. Sei que sou mais que um grupo, uma ideologia, uma nacionalidade, uma espécie. Sou uma parte incrivelmente pequena do universo, um mero agregado de poeira cósmica aparentemente insignificante, mas que compõe talvez a única parte do cosmos capaz de contemplar o todo, ter consciência da noção de identidade e se maravilhar com a ideia de infinito. Sou uma viajante perdida que não perdeu a paixão pela procura. Não sei inteiramente quem sou, mas, por esse motivo, continuo caminhando, guiada pelo espírito inconformista e pela ardente curiosidade que torna a raça humana a mais extraordinária poeira em todo o universo.

Giovanna Lemos Ribeiro
Aluna do Colégio Pentágono, formada no ano de 2016