Pra viver a vida: o valor do estudo de campo
Por Por João Marcello de Araújo Costa Lopes de Almeida *
Desde que se entende por gente, Luísa gosta de bicho. Seu interesse foi acolhido e ampliado pela escola. Mas Luísa (e o mundo) teve que enfrentar uma pandemia. Sendo assim, foram pelos vídeos postados pela professora, no início da Educação Infantil, que a menina aprendeu que alguns animais vivem em grupo e precisam dele para obter alimentos e enfrentar predadores. Já no 1º ano, podendo frequentar a escola presencialmente, descobriu juntamente com seus colegas que os bichos também se organizam em diferentes tipos de famílias. Luísa já podia ver, no bosque de seu Colégio em Alphaville, as galinhas, o pato e a trilha de formigas. Mas agora, Luísa se prepara para ir a uma fazenda com o colégio…
O que Luísa vai aprender dessa vez? Possivelmente, que o cheiro de um galinheiro cheio não é tão agradável, mas que o esterco produzido ajuda uma horta perfumada a crescer. Também verá o que os animais da fazenda comem, de quanto espaço precisam, se podem interagir ou precisam ficar separados uns dos outros, entre tantas outras informações. Mas a estudante aprenderá muito mais! Precisará administrar o lanche para a ida e para a volta da viagem, terá que cuidar do lixo que produz, observará um colega sozinho no banco do ônibus e, exercitando empatia, sentará ao seu lado para o trajeto até a fazenda. Verá também que o campo fica um pouco distante da cidade e como é importante usar o cinto de segurança enquanto aprecia a paisagem pela janela do transporte. Na fazenda, aprenderá a conversar com os agricultores, como coletar dados de pesquisa, como experienciar – através dos sentidos – um ambiente.
Quando pensamos em potencializar aprendizagens e queremos desenvolver habilidades diversas, relacionadas aos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, o estudo de campo é fundamental! A saída pedagógica, intencionalmente planejada, tem um grande potencial para colocar os alunos em contato com a realidade e possibilitar uma construção ativa de conhecimentos. Vale destacar que a preparação dos estudantes para o campo (porque irão e o que farão lá, que conhecimentos já consolidados serão mobilizados nas atividades de campo) e o pós-campo (o que farão com os dados coletados, como organizá-los e comunicá-los de maneira a produzir novos conhecimentos) são imprescindíveis para dar ainda mais sentido à saída.
Outra consideração a respeito da relevância do estudo de campo: ele deve proporcionar uma experiência que não seria alcançada se ficássemos entre os muros da escola. A compreensão do que é uma cidade planejada torna-se muito mais fácil ao subirmos na Torre de TV de Brasília e observarmos a coreografia de carros nas avenidas sem semáforo da cidade; a ideia de que o ouro brasileiro foi retirado dos morros de Minas Gerais torna-se concreta quando percorremos as belas e cansativas subidas e descidas das cidades históricas.
Certo é que Luísa voltará da fazenda com o corpo cansado, mas com a mente transbordante da felicidade de conhecer. O estudo de campo servirá para que saiba mais. Mas não só isso. Servirá também, como diz o hino do Colégio Pentágono, “pra viver a vida, como a vida deve ser”.
* João Marcello de Araújo Costa Lopes de Almeida – Gestor de Ciências Humanas do Colégio Pentágono
Publicado originalmente no Blog do Estadão: