29/09/2015

Ao mestre com carinho

Arte de ensinar (para) a vida

Criança tem uma mania estranha de achar que o professor mora dentro do colégio e pertence somente à sala de aula. Eu não fui diferente e lembro exatamente do espanto coletivo que tomou conta do meu grupo de amigos quando encontramos um dos nossos professores no shopping. Não é que eles têm vida? E são casados! Agora só faltava eu descobrir que eles também gostavam de ir ao cinema e de tomar sorvete tanto quanto eu.

Não só descobri isso, como percebi que professor também era gente, do tipo que faz compras, dá risada (e também fica triste), viaja e gosta de ser feliz. E como se já não fosse surpreendente o suficiente, minha melhor amiga veio me falar que a mãe dela ensinava matemática. Logo a mãe dela, que por sinal eu sempre adorei, foi escolher justo a matéria que eu menos gostava? Antes que tudo ficasse confuso demais, descobri que os professores não são a disciplina que ensinam e, muito mais do que fórmulas e fatos, eles ensinam sobre a vida.

Tenho uma teoria de que somos todos construídos de pedacinhos das pessoas que nos cercam durante a vida, mas principalmente durante a infância e a adolescência, que é quando formamos nosso caráter. Isso significa que uma grande parte de nós é composta pelos nossos mestres, suas histórias de vida, suas aulas em Power Point, suas lousas lotadas que ninguém tem muita paciência de copiar, seus exercícios impossíveis e as notas nem tão legais assim que tiramos em suas provas. E são também, é claro, aquele ‘’eu confio em você’’, a aula sensacional que todo mundo saiu elogiando, o dia em que todos deram risada do jeitinho único que aquele conteúdo chato estava sendo passado e o momento em que você, enfim, entendeu a fórmula de Bhaskara – a revolução francesa, a função do adjunto adnominal, química orgânica ou qualquer que seja a matéria que parecia um bicho de sete cabeças até que um professor fez tudo ficar fácil e inofensivo.

A primeira professora da qual consigo me lembrar, ensinou-me uma música para dizer que usamos ‘’m’’ antes de ’p’ e ’b’. Ela também me disse que não tinha problema se o meu amiguinho quisesse brincar com as minhas Barbies. Não tenho a menor ideia de qual é a letra, mas daria bonecas para os meus futuros filhos sem pensar, nem uma única vez, que ‘’isso é coisa de menina’’. É isso que os educadores fazem, eles mudam a sua vida sem nem perceber.

Espero que no momento da decisão de ser professor, alguém conte que será exercida não somente essa função, mas também a de psicólogo e amigo. Se números fossem o meu forte, contaria quantas vezes meus professores estavam ensinando um conteúdo qualquer e acabaram ensinando a enfrentar a vida e quantas vezes eles estavam realmente tentando passar uma lição simples e acabaram deixando marcas que irão ficar para sempre. Afinal, não há uma só pessoa que não tenha tido um dia um professor que o guiasse e em que ele pode se inspirar.

Essa semana, enquanto pensava no que colocaria aqui e em todas as experiências vividas dentro e fora da sala de aula, acabei conversando com uns amigos e, como sempre acontece quando o assunto é esse, terminamos em uma infindável lista de histórias e momentos engraçados. Gostaria de ter gravado tudo para reproduzir no dia 15 de outubro, dessa forma nossos mestres saberiam que muito mais do que um dia, eles ganharam uma participação especial no futuro de cada um de nós. Não tenho dúvidas quando digo que poucas coisas são tão inspiradoras quanto um professor apaixonado pelo seu trabalho, do tipo que dá vontade de levar para sempre guardado no coração. Nada mais justo, afinal são eles que explicam a matéria quantas vezes for necessário, que buscam novas formas para ajudar seus alunos e que conseguem abrir, para cada sala, mais um espacinho em sua vida.

Paula Zarif
Aluna da 3ª série EM – Unidade Morumbi