Lição de casa: aprendizagem ou castigo?
A lição de casa tem sua origem na época dos jesuítas, quando se adotava a prática do envio de tarefas escolares para serem realizadas em casa. Essa estratégia, intitulada “repetição em casa”, designava um período de estudo com a finalidade de exercitar as inteligências das crianças, eliminando-se as dificuldades para favorecer as aprendizagens futuras.
Com o passar do tempo, novas propostas relativas à lição de casa foram surgindo, e ela continua sendo vista pela maioria dos educadores como parte integrante do processo de aprendizagem. Porém, é preciso repensá-la quanto ao objetivo, à quantidade, à periodicidade e à eficácia, a fim de garantir a aprendizagem , de levar o aluno a pensar. Enfim , para que seja uma “ lição inteligente”.
Aqui no Colégio Pentágono, a lição de casa vai muito além da repetição. De acordo com a política do nosso sistema de ensino, nós a consideramos parte integrante do processo, objetivando ampliar a aprendizagem para além do tempo-espaço escolar, promovendo a rotina de estudo e a aproximação da família com o aprendizado do aluno.
É necessário situar a lição de casa de modo que ela dê ao aluno a oportunidade para a autoaprendizagem, o autoconhecimento e a reflexão, com vistas ao crescimento pessoal. Queremos que nossos alunos aprendam e produzam cada vez mais e melhor, e não que cumpram lições sem erros ou que tenham um caderno perfeito.
Outro ponto a se observar sobre a lição diz respeito ao momento de reflexão individual do aluno: segundo Piaget, a aprendizagem não se dá de fora para dentro, mas a partir de descobertas individuais do próprio aluno, e, nesse sentido, a lição de casa é o único momento em que ele está longe da escola e se encontra com o seu saber ou não saber. É a hora de tomada de consciência das próprias dificuldades.
Algumas das funções da lição de casa, que facilitam o aprendizado do aluno, são a preparação, o aprofundamento e o aprimoramento, por isso, não devemos encará-la como uma obrigação, um castigo, mas sim como uma parte integrante de sua aprendizagem. A partir dessas três funções, especialistas classificam a lição de casa em diferentes tipos:
– Como sistematização dos conhecimentos: analisando as respostas, certas ou erradas, o professor verifica quais são os principais problemas individuais e coletivos da turma e pode reforçar os conteúdos em que os alunos apresentam mais dificuldades. Algumas questões são suficientes para que o professor atinja os seus objetivos.
– Como fixação do conhecimento adquirido: trata-se da lista de exercícios para fixar os conteúdos aprendidos, na maioria das vezes, exercícios de repetição, isto é , o que foi ensinado em sala de aula é repetido em casa, só que com outros enunciados. Normalmente, nesse tipo de lição de casa, prevalece a quantidade em detrimento da qualidade.
– Como introdução de um novo tema: é o momento de aguçar a curiosidade dos alunos, de trabalhar com os conhecimentos prévios, de levantar problemas para que eles entrem em conflito cognitivo. O professor pode pedir, por exemplo, que os alunos leiam notícias de jornais relacionadas ao assunto, que assistam a um filme, respondam a uma questão ou observem um fenômeno. O que vale para esse tipo de lição de casa é a qualidade, e não a quantidade.
– Como aprofundamento de alguns temas: envolve trabalhos mais longos, normalmente projetos interdisciplinares, através dos quais os alunos podem aprofundar a sua aprendizagem, aplicando o que foi aprendido em um determinado tempo.
– Como estudo para provas: esse tipo de lição contém exercícios sobre os temas/conceitos aprendidos e inicia pelos mais simples (nível básico) , passa pelos intermediários (nível operacional), até propor os mais complexos (nível global).
Hoje, devido à permanência dos alunos na escola por mais tempo e, também, ao acúmulo de estímulos, o grande desafio do professor é fazer com que o aluno consiga atribuir significado às tarefas de casa. Este precisa perceber a função das lições, para poder compreender a sua importância e necessidade.
Enfim, pais professores e alunos devem encarar a lição de casa como estudo e, portanto, como instrumento de aprendizagem, não como castigo.
Silvia Tuono
Assessora Pedagógica Geral do Colégio Pentágono