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11/05/2016

O papel da escola no enfrentamento da morte

Enfrentar uma situação de morte é sempre difícil, mas, para a criança, a perda de um ente querido, mais comumente dos avós ou de uma pessoa próxima, é especialmente impactante, mobilizando sentimentos profundos, uma vez que se trata de uma experiência nova e triste. É algo que ninguém deseja que aconteça, mas que, inevitavelmente, fará parte da vida, e a instituição escolar deve estar preparada. Abordar a finitude da vida com as crianças é, sem dúvida, tratar de um tabu.

O Colégio Pentágono, em seus 45 anos de história, já viveu algumas vezes a morte de perto e aprendeu que a escola não pode se furtar ao dever de acolher e de gerar transformações nas pessoas ligadas à situação: crianças, familiares e professores. Mas como se preparar para lidar com isso?

Antes de tudo, reconhecer que a situação “morte” é possível, que ela faz parte do fechamento de um ciclo e que é necessário ter um plano de ação para um momento tão difícil, é fundamental. Deve-se encarar como uma oportunidade de trabalhar com as crianças habilidades socioafetivas, como autoconhecimento, empatia, resiliência, afetividade e equilíbrio emocional, buscando conhecimentos e meios para lidar com a situação.

Estudar o assunto com a equipe de educadores é imprescindível, pois, ao conhecer como a criança pode reagir a esse evento em cada etapa do desenvolvimento e como se dá cada uma das etapas do luto infantil, o educador terá mais condições de saber como acolher e trabalhar a situação e estará capacitado a ouvir, compreender e atuar para o fortalecimento das habilidades socioemocionais e para a formação de um indivíduo resiliente, equilibrado, capaz de lidar com frustrações e perdas.

A teoria de Jean Piaget sobre os estágios do desenvolvimento infantil nos mostra que, somente após os 10 anos, aproximadamente, é que a criança passa a ter recursos para compreender completamente os aspectos fundamentais que envolvem a morte: que é um fato universal, irreversível e que, com ele, todas as funções vitais cessam. Sabendo disso, fica mais fácil compreender os questionamentos e as manifestações de cada fase do luto infantil, sejam protestos, desespero ou esperança.

Então, como ajudar as crianças e os adultos da comunidade escolar frente as perdas?

Quando a morte acontece, é fundamental proporcionar momentos e um ambiente acolhedor para que as crianças falem de seus sentimentos, dificuldades, façam perguntas e recebam respostas honestas, sem juízos de valor, com uma linguagem adequada à etapa do seu desenvolvimento. É preciso criar estratégias que as encorajem a se expressar e, ao mesmo tempo, a ouvir os colegas, validando os seus sentimentos, percebendo que não estão sozinhas, humanizando-se.

A equipe deve estar disponível, organizada e preparada para atender a situação. Professores atendem às demandas dos alunos; a Coordenação e a Orientação Educacional, aos pais e professores; a Direção acompanha o processo, solidarizando-se com todos, fazendo-se presente como um ponto de apoio. A comunicação aberta e acolhedora, seja presencial, por telefone ou qualquer outro canal virtual oficial, aproxima e tranquiliza.

Convidadas a conhecer como a escola vai abordar o assunto e a acompanhar o processo, as famílias podem atuar conforme as suas orientações morais ou religiosas junto aos seus filhos e à família da criança que passou pela perda. É um momento de aceitação mútua, comoção, união e de participação de rituais que ajudam a olhar para a realidade, vivenciar a perda, legitimar a tristeza e a frustração, falar de sentimentos, trocar gestos de carinho, lembrar-se da pessoa que faleceu, possibilitando um fortalecimento das relações interpessoais e, mais ainda, das relações intrapessoais.

É, sim, papel da escola se envolver nas questões que mobilizam ou podem mobilizar a vida de sua comunidade, indo além do currículo e revelando, acima de tudo, ser constituída por pessoas que, além de profissionais e especialistas, são seres humanos formadores de seres humanos.

Algumas dicas para ajudar a criança a lidar com a morte:

• Encoraje-a (mas não force) a expressar seus sentimentos: falando, escrevendo, desenhando;
• Acolha e aceite sentimentos, percepções e reações de tristeza, angústia, ansiedade, raiva, medo, sofrimento. Ofereça carinho;
• Responda às perguntas com sinceridade, com uma linguagem clara e simples, de acordo com a idade da criança. Converse com ela;
• Expresse também as suas emoções;
• Seja paciente. A criança provavelmente repetirá muitas vezes a mesma pergunta;
• Sugira caminhos para que a criança possa lembrar e falar da pessoa que morreu com naturalidade;
• Busque orientação profissional caso sinta necessidade.

Luma Grassmann
Coordenadora do Ensino Fundamental I da unidade Alphaville do Colégio Pentágono