15/02/2017

Primeiro ano, e agora?

“Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los, sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.”

Carlos Drummond de Andrade

O processo de escolarização da infância direciona as crianças em práticas educativas específicas, com tempos e espaços diferenciados, posicionando-as em lugares socialmente demarcados e distintos. A transição entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental é um momento essencial na vida das crianças e suas implicações para membros de diferentes grupos sociais têm sido objeto de estudo. Ao longo das últimas décadas, diversos estudos buscam compreender os significados da transição entre os distintos espaços de socialização da criança.

No contexto brasileiro, algumas pesquisas sinalizam um processo de impasse na transição entre esses dois segmentos, principalmente, na entrada das crianças no Ensino Fundamental, caracterizado por um maior controle corporal e desenvolvimento de atividades de caráter mais repetitivo. Uma das tensões identificadas, ao se fazer o levantamento e a análise de publicações acerca desse tema, é sobre o lugar do letramento e da alfabetização nesses dois níveis de ensino.

No Colégio Pentágono, procuramos um equilíbrio nas práticas educativas que assumem centralidade na Educação Infantil e no primeiro ano, essencialmente do Ensino Fundamental, aquelas que se estruturam em torno da brincadeira e do letramento, mas situadas diferencialmente nos dois segmentos. A transição entre tais práticas, sem dúvida, caracteriza a tensão entre esses dois níveis de ensino. Na Educação Infantil, a centralidade do brincar costuma estar presente na organização das rotinas institucionais, com o uso do tempo e do espaço estruturados em torno dessa intenção. No entanto, tendo em vista a sua condição de sujeitos inseridos em uma cultura grafocêntrica, as crianças se voltam também para a apropriação da língua escrita, engajando-se individual e coletivamente em diversos eventos de letramento.

Ou seja, as crianças, individual e coletivamente, não apenas se apropriam dos significados do mundo, internalizando valores e normas culturais, como também contribuem para a produção e a mudança desses significados. Tal processo se dá mediado pela linguagem e pelas rotinas culturais. Assim, o brincar, um dos elementos centrais da cultura de pares e do cotidiano da Educação Infantil, é validado no contexto da sala de aula do Colégio Pentágono, também nas séries iniciais do Ensino Fundamental, estreitando e alinhando, progressivamente, as práticas pedagógicas referentes ao brincar e ao letramento, ambas dimensões fundamentais desses espaços diferenciados, mas, principalmente, da plenitude da cultura infantil contemporânea.

Assim, convido a todos que, de alguma forma, direta ou indiretamente, alunos, pais e professores, ingressarão na aventura escolar do primeiro ano em 2017, a mergulhar na rica diversidade desse contexto, acreditando, validando e construindo, essencialmente, na parceria, uma aprendizagem regada de significado, ludicidade e construção de autonomia.

Thaís Ramos Nucci Zanetti
Coordenadora do Ensino Fundamental I – 1º ao 3º ano – Colégio Pentágono